A juventude sempre foi pensada como promessa: o futuro parecia aberto, pleno de possibilidades. Mas você sente que é assim?

Durante muito tempo, no imaginário social, os vinte e poucos anos eram a fase em que a vida se organizava: concluir estudos, iniciar carreira, conquistar independência financeira, construir relações estáveis e até mesmo um novo núcleo familiar. Esse era o roteiro transmitido de geração em geração, sustentado por uma economia mais previsível e por um pacto social que oferecia segurança. Mas hoje, em 2025, essa expectativa já não sustenta mais a realidade.

O que a psicologia tem a dizer?

Freud descreve o Ideal do Eu como a instância psíquica que orienta o sujeito em direção ao que ele gostaria de ser, sustentando identificações e expectativas. Antes, esse ideal apontava para um roteiro socialmente partilhado. Hoje, os jovens vivem diante a um ideal fragmentado onde existem múltiplas possibilidades, mas poucas condições concretas para que elas se realizem. O efeito subjetivo é a experiência de insuficiência. O “eu” não consegue corresponder ao que imaginava que deveria ser, então a ansiedade e a sensação de atraso surgem como expressões dessa ruptura entre o possível e o idealizado.

O conceito de “Emerging Adulthood”, traduzido para Adulto Emergente, foi criado por Jeffrey Jensen Arnett para descrever um novo período do ciclo de vida que surge entre a adolescência e a adultez plena. No passado, se pensava na vida em fases: infância, adolescência, vida adulta. Porém Arnett observou que, em sociedades ocidentais, os jovens não entravam mais no que era considerado “adultez” (trabalho, casamento, filhos, independência financeira) logo após a adolescência. Assim, ele propôs que dos 18 aos 29 anos existe uma fase intermediária, marcada por descoberta e transição, que não se encaixa nem na adolescência e nem na adultez consolidada. Embora a psicanálise não interprete o desenvolvimento como uma sequência linear de fases, esse “entre” pode ser encarado como um momento de suspensão: um tempo no qual o sujeito precisa refletir e integrar experiências antes de assumir uma nova posição simbólica, como Lacan descreve ao discutir o tempo lógico da escolha e do desejo. Neste caso, a passagem para a vida adulta.

Além da pressão econômica, acadêmica, profissional e social, e das preocupações com saúde mental e questões globais, a geração Z enfrentou também a pandemia de COVID-19. Durante esse período, muitos jovens viveram um fenômeno conhecido como “Time Blur”, traduzido como Desfoque Temporal, uma sensação de que o tempo se diluiu, os dias e semana se confundiram e, em consequência, os marcos da vida ficaram cada vez mais indefinidos. Trabalhar, estudar e socializar dentro de casa fez com que a percepção de progresso e conquista pessoal de muitos ficasse em suspensão. O artigo de Loose e Wittmann (2022) mostra que muitos jovens sentiram como se tivessem perdido anos da juventude durante o isolamento, o que contribui para a ideia de atraso.

O que podemos tirar disso?

Os vinte e poucos anos, hoje, carregam instabilidade e o desespero de quem não possui respostas. A terapia pode nos ajudar a acolher essas incertezas, entendendo que não existe um caminho único para ser seguido. Talvez o verdadeiro amadurecimento não seja cumprir o roteiro idealizado do passado, mas poder sustentar-se diante da falta de respostas e, ainda assim, seguir desejando.

Se você sente que está perdido, angustiado ou atrasado, saiba que não está sozinho. O mundo mudou, os modos de viver a juventude também. Como lembra Freud em O Mal-estar na Civilização (1930): “o propósito de que o homem seja ‘feliz’ não está incluído no plano da ‘Criação’” (p. 85). Em outras palavras, não é a felicidade plena que organiza a vida, mas sim as tentativas de manejar o mal-estar e encontrar satisfações possíveis dentro dele.

Precisa de ajuda para passar por esse momento desafiador da vida? Minha agenda está aberta, entre em contato.

Por Arieli Poubel – CRP 05/67178.

Citações:
Freud, em O Mal-estar na Civilização.
Loose e Wittmann, em Time perception and the pandemic.
Lacan, em O Seminário, Livro XI – Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise.

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